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SONETO
Cansado disso tudo, a morte exijo.
De ver o mérito nascido pobre
E a nulidade posta em regozijo
E a fé mais pura que a traição recobre
E a honra de ouro em vergonha aviltada
E a virtude de virgens posta à venda
E a perfeição, num erro, desgraçada
E a força ao coxo ceder na contenda
E a autoridade amordaçando a arte
E o Tolo, doutora, deitar saberes
E a verdade escarnida ao dar-se em partes
E o Bem cativo aos pé de vis poderes:
Cansado disso tudo eu me finasse
Se ao meu amor sozinho não deixasse.
"Willian Shakespeare"
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METADE PÁSSARO
A mulher do fim do mundo
Dá de comer às roseiras,
Dá de beber às estátuas,
Dá de sonhar aos poetas.
A mulher do fim do mundo
Chama a luz com um
assobio,
faz virgem virar pedra,
Cura Tempestade,
Desvia o curso ao rio,
Me puxa do sono eterno
Para os seus braços que
cantam.
Murilo Mendes
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